quinta-feira, 27 de agosto de 2015

FÉRIAS: CN → THE → GYN → UDI #13

(...)

Quando chegamos em Udi, meu melhor amigo não era mais o Mr. Job - que naquelas horas estava largado dentro do porta-luvas do carro -, mas sim o GPS do meu celular.

Augusto e eu não fazíamos ideia de onde estávamos e, graças a tecnologia da localização do whatsapp e do GPS que seguiu ela, conseguimos a viagem tranquila. Assim que chegamos, comunicamos ao Igor - que conheci há pouco tempo, após a morte de um amigo que eu iria conhecer pessoalmente... Não, espera, melhor eu começar toda a história para que seja bem entendida.

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Há alguns anos, um cara chamado Weuller me adicionou no Facebook. A única amiga em comum era a Tassya, que já tinha um pouco mais de tempo que a conhecia virtualmente. Inclusive, nos conhecemos também através do Twitter. Quando esse cara me adicionou, antes que eu o aceitasse, perguntei para Tassya quem ele era e ela não sabia me dizer muito bem, somente que já tinha visto ele pelo trabalho dela. Mesmo assim, arriscando uma nova amizade, aceitei a sua solicitação de amizade. Passado alguns dias, começamos a conversar e a conversa acabou rendendo. O papo dele é muito bom. Ficamos muito amigos e fomos até alimentando essa minha viagem um dia para Udi.

Acho que através de mim, mencionando sempre os dois juntos, Tassya e ele se tornaram mais próximos. Acho que iam às baladas juntos e se divertiam bastante, coisas que eu só podia ver por foto. Por algumas vezes, como qualquer amigo normal faz, nos ligávamos, conversávamos sobre a vida e ríamos sempre do nosso sotaque. Ele sempre me zoava me chamando de "bichinho", já que essa é uma expressão de piedade que usamos por aqui no final das frases.

Algumas vezes, ríamos demais dos nossos áudios, e conversávamos quando sobrava tempo, pelo Skype. Lembro que ele sempre me mostrava as coisas que conseguia e os objetivos futuros. Uma vez ele me disse que estava querendo trocar de emprego e que iria tentar trabalhar em algo maior e que na semana seguinte já faria uma entrevista. Desejei boa sorte e fiquei torcendo para que tudo desse certo, como se ele fosse um amigo de perto mesmo. E deu certo!

Na semana seguinte ele me disse que já estava tudo certo e que iria começar no emprego novo em um Banco. Alegre, demonstrei a minha animação por saber que ele tinha conseguido. Nas semanas seguintes, ele já me exibiu um iphone, mostrando sua grande satisfação por ter conseguido.

Nos dias seguintes, o horário que ele poderia se comunicar comigo era somente depois das 00h, mas nesse horário ficaria um pouco complicado para mim, pois eu tinha sempre que acordar no dia seguinte cedo para ir trabalhar. Por algumas vezes, conversava, pois aqueles momentos de conversa com ele, nem o cansaço pagaria.

Ele me disse um dia que tinha conseguido outro emprego, para que lhe desse uma renda extra. Era um emprego simples, mas para ele já estava de bom tamanho. Pela manhã e tarde ele tinha uma função - que não me recordo muito bem - no Banco do Bradesco e pela noite ele vendia cachorro quente em um lugar chamado "Au Au Lanches" da cidade dele. Só lembro do nome do lugar, porque uma vez ele me mandou uma foto usando o uniforme de lá.

Admirava muito aquilo dele e ficava sempre feliz por ele servir como exemplo para muitas pessoas que pensam pequeno.

Foram as ultimas vezes que conversamos...

Por um dia, sentindo falta das nossas conversas, ele não me respondia mais. Eu fiquei preocupado e por vezes até achei que ele tivesse me bloqueado. Nisso, chamei Tassya para conversar e perguntei por ele. Eu queria saber o que estava acontecendo. Ela então me disse que ele havia sofrido um acidente andando de patins uns dias atrás e que tudo ficaria bem, mas que ele estava em recuperação.

Sem informações precisas da Tassya e com desconfiança de algo a mais, resolvi adicionar o melhor amigo do Weuller, o Igor, para que eu pudesse saber de detalhes. Foi então que ele me contou a mesma história e acrescentou que ele estava em coma, esperando ser acordado para ver a questão de outros procedimentos. Detalhando mais, o acidente foi ocorrido por uma queda e batida da cabeça no chão - ele não estava usando o capacete.

No sábado, quase uma semana depois do acidente, Tássya me mandou uma mensagem mais ou menos assim no whatsapp:

Tássya: Anderson, não tenho notícias boas.
Eu: O que aconteceu?
Tássya: Weuller não conseguiu acordar...
Eu: Mas vai ficar tudo bem , né? - nessa hora achei que ele fosse ficar com alguma sequela.
Tássya: Não, Anderson. Infelizmente tiveram que desligar os aparelhos...
Eu: Weuller morreu?
Tássya: Sim, Anderson!

Nessa hora, comecei a chorar sozinho ali no meu quarto. Não estava acreditando que fazendo pouco tempo que poderia ver ele, aquilo me aconteceria. Sem forças e com a cabeça inchando ali, por tentar segurar o choro sem fazer barulho, cobri meu rosto com o lençol. Ainda sem forças, queria ter dividido aquilo com alguém.

Meu irmão estava do meu lado, quando virei pra ele. Ele viu minha cara vermelha de tanto chorar, baixou a cabeça e não me perguntou nada, mas demostrando com aquele olhar confuso e indireto interesse em saber.

Tentando deixar as palavras saírem da minha boca bloqueada pelo choro, falei pausadamente o que tinha acontecido:

- Dayson... Tu sabe que vou pra Uberlândia daqui uns dias, né? Sabe o cara... O cara que eu ia conhecer lá...? Ele acabou de morrer!

Sem saber muito o que falar, ele soltou apenas um "é foda!" com tom triste de "sinto muito", lamentando o que estava passando ali.

Aquilo ainda não tinha me bastado. Eu sentia como se alguém de perto tivesse morrido. Eu queria também ficar só, pensar nas coisas boas. Ouvi novamente os últimos áudios nos quais ele dizia que não via a hora de me conhecer, que iria me pegar na rodoviária e que prepararia uma janta bem gostosa, além de me presentear com algo bem legal - que jamais saberei o que é. E aquilo me fraquejava, causando mais choro ainda.

Lembro que tudo isso foi num sábado e nesse mesmo dia teria que ir em um encontro bíblico, onde Fabrícia e Adriano sempre me incentivaram a frequentar. Eu não estava bem para ir, estava com o rosto inchado de tanto chorar e com olhos e nariz vermelhos, mas algo dentro de mim dizia que seria melhor ouvir ali o que Deus tinha pra me dizer através deles. No final do estudo, contei o que estava acontecendo e, emocionado, voltei a chorar. Os dias seguintes fiquei remoendo aqui, chorando ainda que pouco, mas ouvindo os áudios que me deixavam mais triste ainda.

Após algum tempo depois desse ocorrido triste, me tornei amigo do Igor e conversamos muito. Eu expliquei que já tinha programado a minha ida a Udi e que não sabia onde ficar, muito menos para onde ir. Igor, sendo super gente boa, disse que já que eu era amigo do Weuller e Weuller falava sempre bem de mim, se tornaria meu amigo também e, claro, me ajudaria no que fosse ao alcance dele.

E foi nessa que tudo deu certo.

~

Igor mandou sua localização e fomos bater em frente ao prédio dele com a ajuda do GPS. Udi naquele dia estava com um calor sem fim e o que eu mais queria ali era tomar um banho de água fria. Mesmo assim, ainda demorei um pouco a ir ao banheiro, pois começamos a conversar sobre Weuller e outras coisas da cidade... Ficamos mais ou menos uma hora ali, sentados, conversando.

Após, tomei banho, troquei de roupa e esperei a ida do Augusto ao banheiro também. Enquanto isso, sozinho, ficava olhando ali o quarto que eu estava, era o quarto do Weuller, com uma cama, um colchão encostado na parede, um guarda-roupa e algo do lado que não me recordo o que, mas que parecia uma mesa com sapatos, notebook e outros trecos. Andando por ali e observando tudo, fui ao guarda-roupa, que estava com a porta entre aperta. Curioso, abri um pouquinho e vi um crachá de funcionário do Bradesco. Era do Weuller. Além do mais, tinha ali a caixa do iphone dele, que ele tanto gostava de mexer e me exibir. Foi triste ver tudo aquilo, mas não consegui chorar.

Augusto saiu do banheiro minutos depois e, após alguns minutos, esperamos a amiga do Igor, que também morava lá, se arrumar e Igor também. A gente ia em uma loja, onde ela queria comprar umas roupas. A loja era perto, poderíamos ter ido a pé, mas com aquele calor, Augusto ofereceu a ida de carro.

CONTINUA...

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