quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

TÔ LEVE

No sábado (10), à noite, por ironia do destino, esvaziei um dos sentimentos que tenho há alguns anos. Com a pandemia, não só por obrigatoriedade do momento, me afastei de muita gente, inclusive daquelas que faziam com que minha cabeça ficasse um pouco perturbada.

Eu não sei desfazer das minhas poucas amizades, tampouco das pessoas que não me fizeram nenhum mal de forma proposital. Quem me conhece sabe muito bem que quem me faz mal, não vê nem a minha cor mais. Pra quê vou ficar perto de gente desse tipo?

Então, vou tentar poupar detalhes aqui porque a exposição é grande, sei lá, e eu tenho consciência que juntando as pessoas a gente consegue chegar em quem a gente quer descobrir. Falo isso por mim mesmo, pois sou atento a detalhes desde sempre e encaixar peças é comigo mesmo. Não sei se isso chega a me confortar ou a me decepcionar. Na verdade, descobrindo algo, fico só pra mim até a história vir à tona.

Então, como em todos esses dias, fiquei vendo os blocos passarem aqui na frente da casa do pai do Dalton. Me arrumava pra ficar, literalmente, dentro de casa. Nisso, comecei a conversar com alguém que me afastei desde o primeiro semestre de 2019, acho que um pouquinho antes da pandemia. Motivo: estava gostando e não percebia o retorno que eu queria. Tive que aguentar tudo calado, aguentar sonhos e pesadelos e evitar o máximo fazer com que nos encontrássemos na rua - o que era inevitável. Nosso papo foi fluindo e comecei a perceber uma vontade de desabafo da sua parte. Segui falando o que achava e, assim como já havia dito semanas atrás, reafirmei que teríamos que nos ver pessoalmente. O nosso encontro teria que ser longe de tudo e de todos para que ficássemos bem à vontade. Acabou que não rolou ainda, mas combinamos, por enquanto, de mais tarde fazermos uma vídeo chamada.

Após as 22h, cheguei em casa, tomei banho e nos ligamos.

Na ligação, contei um pouco de tudo que estava engasgado dentro de mim. Confirmei que estava apaixonado, que eu via isso e aquilo e sabia de coisas sem a maior pretensão de saber; as coisas vinham a mim sem eu mesmo perguntar. Falei dos sintomas que tive, sonhos, pesadelos e até uns pedidos de ajuda que fiz.

Enquanto contava tudo, sentia o nervosismo, mas não cheguei a gaguejar ou a me perder tanto nas palavras. O silêncio da parte de lá me maltratava um pouco, mas eu sabia que no final eu não iria receber nenhuma palavra de conforto. Já sabendo disso, pedi apenas que me ouvisse e que não falasse nada, afinal, não quis atribuir a culpa, pois o culpado de tudo fui eu mesmo. Fui eu que passei por isso. Ainda bem que não parei a minha vida.

Durante esse papo também falei que tive que silenciar as suas redes sociais... No fim, acho que fui entendido. Falei que eu amava e que não queria, e que teria certeza que nada mudaria entre a gente, porque se até hoje não mudou, por que iria mudar? Falei que sorte demais as pessoas que têm ao seu lado e que não merece jamais passar por nenhum mal.

Juro, a melhor coisa que eu fiz. Talvez pessoalmente eu ia desandar em choro, mas aproveitei essa oportunidade. Estou leve do vazio que eu tinha.
Aécio Martins
🪶🧔🏻‍♂️💓