Hoje estava indo para o trabalho no ônibus quando, dessa vez, percebi que tinha uma boa parte de moradores do bairro. Na verdade era a maioria crianças.
Assim que todos os trabalhadores desceram na fábrica, fiquei observando como as crianças estavam se comportando ao entrar. Uns foram logo gritando, correndo, como se o ônibus fosse um brinquedo de parque de diversões. Suas mães não paravam de reclamar e pedir para que calassem a boca, ou tirassem a cabeça de fora da janela.
O mais engraçado foi quando uma criança tomou o lugar da outra. Quando um dos garotos correu para voltar ao seu banco, outro tomou sua frente e pegou seu lugar. Ele, revoltado, bateu os pés no chão e começou a chorar gritando, achando que sua mãe fosse fazer alguma coisa, mas, não, sua mãe nem lhe deu a minha. Até eu sair do ônibus, ele continuava chorando, como se o sonho dele de estar naquele lugar tivesse ido por água abaixo.
Enquanto observava tudo isso, me bateu uma saudade. Saudades da terceira série, quando eu pegava o ônibus para ir e voltar da escola. Na ida nem era tão bom, mas na volta, pelo fato de termos um dia estressante – ou engraçado – descontávamos tudo que não podíamos fazer na sala, no ônibus. Os “grandões” (chamávamos os do ensino médio assim) faziam a festa no fundo do ônibus. Eles começavam a cantar com a famosa musica da baratinha e, com a ajuda de alguns, terminavam sempre com um final hilário. Depois partiam para entrevista com alguns dos passageiros. Eu até tive os meus 15 minutinhos de fama – rs.
Um deles, pelo qual vejo até hoje, veio em minha direção e perguntou como eu me sentia em ser “O Maskara”. Eu dizia que não era ele e tal e começava a ficar com vergonha de responder as demais perguntas, apelidando os “repórteres” também. Até hoje eu não entendo por que eles me chamavam de “Maskara”, de “Stanley Ipkiss”. Vou até conferir umas fotos minhas da terceira série e ver se eu realmente tinha algo que parecia com o desenho, que na época fazia muito sucesso.
Uma vez, no caminho, sempre tinha uns meninos mais velhos jogando futebol em um campo, daí sempre que os víamos, colocávamos a cabeça pra fora da janela e começávamos a gritar, dizendo que eles eram ruins, para que chutassem a bola, para que tocassem, enfim, fazíamos eles se distraírem em segundos, enquanto o ônibus passava por perto. Certo dia, não me lembro do que eu tinha que estava muito desanimado, e nem participei da brincadeira de gritar para os jogadores, como já era costume fazer todos os dias. Então, acho que revoltados, uns dos jogadores se escondeu e quando começaram a gritar pra eles, ele jogou uma pedra. Essa pedra atingiu bem no vidro da janela, do outro lado do motorista e atingiu um amigo meu. Pense, a galera se calou rapidinho e só vi muito sangue na cara dele. Ainda bem que não teve corte profundo, só uns arranhões.
Vendo isso, o motorista desceu com tudo do ônibus e foi até o campo, e fomos atrás. Me lembro ainda que tinha um cara que estava sem camisa, com uma perna esticada para a frente e com os braços balançando pra frente, pra trás. Achava que era ele que tinha jogado, mas não podíamos julgar ninguém, pois nem um de nós vimos quem era. Depois daí já não me lembro o que aconteceu mais. Que pena que o restante foi apagado da minha memória.
Agora nos dias de chuva; Nossa, chovia mais dentro do ônibus do que fora. Ao sair de casa, minha mãe sempre me dava uma capa de chuva, amarela e maior do que o meu pobre corpo magro – que no tempo era também. Na ida para escola, no ônibus, o calor do sol faltava nos cozinhar dentro do ônibus, era como se estivéssemos dentro de uma lata de sardinha. Na volta para casa, no final da tarde, já escurecendo, o tempo fechava e começava a chover forte. Nós gritávamos, riamos e nos abraçamos, como se houvesse bastante tempo que não chovia. Pra mãe não brigar quando eu chegasse em casa, eu colocava a capa, mas depois que tinha me molhado todo, por colocar a cabeça fora da janela. Aai, era tão bom sentir o vento e os pingos de chuva, que mais pareciam pedrinhas sendo jogadas, no rosto. Sentir a felicidade de estar ali, naquele momento único, sem saber. (meu olho encheu de água agora)
Mas não houve só momentos bons! Eu passei por duas que jamais esquecerei. Uma vez, eu estava estressado, não me lembro do por que, daí um cara começou a procurar conversa comigo. Nos dois estávamos em pé, eu estava na frente dele, de costas pra ele. Daí ele puxava o meu cabelo e, quando eu olhava pra trás, ele fingia que não era ele. Isso continuou por algumas vezes até quando a minha paciência se esgotou e virei rápido dando, por impulso, um soco na barriga dele. Agindo por impulso também, ele me devolveu um soco na cara. Sem estrutura – e nem força – segurei meu choro enquanto esperava um banco desocupar na próxima parada. Rápido, o banco foi desocupado, eu pus as minhas duas mãos cobrindo o rosto, baixei a cabeça, colocando em cima das minhas pernas e comecei a chorar. Chorei tanto, tanto... Fiquei por umas semanas com um roxo no rosto, acima do canto direito do meu lábio superior. A mãe até percebeu, mas eu dizia que não sabia o que tinha acontecido. Até hoje ela não sabe o que realmente aconteceu.
Num outro momento, como de costume também, quando chegava na minha parada eu sempre ia pra porta, com ônibus ainda em movimento, para que, quando ele parasse, eu fosse o primeiro a descer. Até que num dia, o ônibus estava lotado, e eu fui inventar de ficar, uma parada antes da minha, na porta. Esperei chegar a minha vez de descer e quando o ônibus estava quase parando, me jogaram. Lembro que coloquei o pé no chão, desiquilibrei e saí rolando em meio à piçarra que tinha por lá. Eu chorei demais, chorei, enquanto tentava limpar o meu uniforme para que a mãe não percebesse... mas foi só no caminho para casa. Quando já estava na rua de casa, eu engolia o choro, com a desculpa na ponta da língua. Pensava que, caso a minha mãe perguntasse o que tinha acontecido com o meu uniforme, diria que estava jogando bola, ou rolando na grama, no horário do recreio. Eu era esperto, aliás, embora não pareça, sempre fui.
De tantas aventuras que passei dentro do ônibus da escola, a que mais me divertia e fazia com que minha boca se dilatasse para os lados, sem limite, era quando tinha lombadas na rua – chamado aqui de quebra-molas. Como já conhecia o caminho, meus amigos e eu, já nos aquecíamos no fundo do ônibus, o mais próximo do pinel possível. Quando o motorista passava o pneu dianteiro no quebra-molas, atrás já nos abaixávamos um pouco e nos preparávamos para dar um pulo no momento exato do pneu traseiro passar também. Hoje entendo que queríamos colocar em prática a aula de ciências sobre gravidade – rs.
Foi muito bom me lembrar disso, melhor ainda poder compartilhar isso aqui, com vocês. E também sabendo que daqui a alguns dias estou fazendo duas décadas. Nossa, eu nunca esperei por esse momento! Snif! Êh mããããããe, eu não quero entrar na casa dos vinte. =’(
gosto d ouvir esse tipo de história me lembra de coisas q jamis irei esquecer!
ResponderExcluireita infância boaaa!!
Concordo com a ideia de gravidade não! 1 lei de newton ficaria melhor! kkkk certo q tbm num sei
ResponderExcluirPow cara muito boma essa tua potagem, acabei de me lembrar da minha infância... Dos tempos em que eu jogava peteca ali por trás do auditorio, brincava do três ali no campo... Muito boa aquela época!
ResponderExcluir- Isso mesmo, eu sabia que tu ia gostar dessa postagem! Infância pela qual jamais vou esquecer! // E qual era a primeira lei de Newton mesmo? kk' Faz tanto tempo isso! // Época essa que não volta mais, Homero. Fiquei com os olhos cheio de água ao digitar essa postagem, tu nem imagina a minha saudade!
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